sábado, 8 de agosto de 2009

Torcida

Em 02 de dezembro de 2007 muita gente chorou de sofrimento, muita gente chorou de alegria ao ver o Corinthians cair para a segunda divisão do Campeonato Brasileiro. É impressionante como este time mobiliza emoções estremas nas pessoas. Já conheci até pessoas que não gostam, não acompanham, não torcem para time nenhum, mas não gostam do Corinthians.
Naquela ocasião, ouvi muito jornalista (anti-corinthiano, claro), falando que achava um absurdo o alarde que estava sendo feito, afinal outros grandes caíram e não houve aquele drama todo. Ouvindo esses comentários, gastei um tempo pensando nisso e acho que eles estavam errados, porque não conseguiram fazer uma leitura sociológica da questão.
É verdade que outros grandes clubes caíram, mas qual é o perfil de suas torcidas? Os adversários enchem a boca para chamar a torcida do Corinthians de favelada, pobretona, baderneira e outros elogios. Não poupam piadas fazendo comparações com índices de analfabetismo, criminalidade, etc.
Em parte eu concordo, porque o Corinthians é o time do povo, é popular, é o time de todos e todos. Agora imagine, num país com os índices de injustiça social como este, com pouca ética e muita corrupção, com desemprego, violência, em que muitas vezes, o povo não encontra referenciais de identidades positivas, o único ponto de esperança é o Timão. Porque o timão, representa garra, superação, a virada no último minuto do jogo. A marca do Corinthians nunca foi o futebol bonito, foi o futebol da garra, da fé, da perseverança.
Tornei-me corinthiana em 1990 por opção. Assisti uma reportagem, vi a torcida, uma entrevista do técnico Nelsinho e do Neto e meu coração disparou. Foi amor a primeira vista. Imediatamente disse, este é o time do meu coração.
Quando o Corinthians caiu, fui uma das pessoas que sentiu uma imensa dor no coração, faltou o ar. Claro que pelo time, mas principalmente pela torcida. Pensei e agora? Será que as pessoas perderão a esperança? Será que o povo vai entregar os pontos e deixar de sonhar, de acreditar? A pessoa podia não ser bem resolvida quanto a muitas questões de sua vida. Mas tinha orgulho, enchia o peito para dizer sou corinthiana(o), mas e agora?
Então, assim como o time, a torcida deu um baile em todos os pessimistas e ficou ainda mais forte e impulsionou o time para a grande virada da sua história.
O time muda de cor, muda de técnico, de jogadores, de comissão, de diretoria e até de endereço, mas essa torcida é fiel. Sou apaixonada por esta torcida.

Museu do Futebol



Era um domingo frio, na verdade gelado, mas fazia sol. O céu estava de um azul lindo, fazia gosto sair para passear. Fomos ao Museu do Futebol no Pacaembu. Foi um passeio incrível, o museu é fantástico, moderno, emocionante, cheio de informações e diferentemente do que muita gente pensa, não é um museu de clubes de futebol. Principalmente, se tivermos a compreensão das muitas facetas deste esporte, que inclui aspectos financeiros, sociais, culturais, antropológicos.
Já visitei o Museu do Maracanã e o Memorial do Corinthians, adorei ambos, riquíssimos em informações, entretenimentos, uso de tecnologia, que agrada até aquelas pessoas que não são muito chegadas ao futebol. Mas o do Pacaembu, definitivamente, é o mais emocionante dos três. Em especial para mim, uma parte que fica embaixo da arquibancada do estádio, em que através de um jogo de imagens são postas várias torcidas do Brasil. Cantando seus hinos, rezando, chorando, sofrendo, fazendo coreografias, vibrando com os gols. Não há como não se emocionar, dá a impressão que estamos no coração da torcida, é realmente fantástico.

Filmes


Estou estudando o livro Cidadão de Papel (Dimenstein). Depois de algum tempo volto a encontrá-lo. É claro que ele trata de assuntos que já conhecemos, estão no nosso cotidiano, mas quando paramos para pensar sobre eles, saímos da posição de acomodação, de que se acostuma a conviver com a injustiça e achar que faz parte da vida.
Dei uma parada na leitura para ver o filme “Última parada 174”, fazia tempo que queria assistir e acho que aconteceu no momento certo, ainda que ao final senti uma enorme tristeza. Pensando na quantidade de Sandros que diariamente morrem (em todos os sentidos) pelo nosso país.

Colocando a leitura em dia


Adoro ler, mas gosto de ler pelo puro prazer da leitura, podendo saborear a textura de cada palavra. Diferentemente de ouvir músicas ou assistir algo, a leitura tem o tempo do nosso sentir, do nosso imaginar. Pode-se, por exemplo, gastar muito tempo em uma única página, porque ela remete a lembranças, projetos, sonhos, à imaginação e esta não tem limite de tempo, de lugar, de espaço.
No dia a dia preciso fazer as leituras obrigatórias, leituras para o conhecimento profissional, científico, acadêmico. Também são leituras importantes,mas muitas vezes, menos prazerosas. Mas, nestas férias foi bastante diferente. É claro que reservei um tempo para as leituras obrigatórias. No entanto, li quatro livros ao bel prazer. Que delícia parar pelas páginas e deixar a emoção brotar. Quando o canto diz que “não só de pão o homem viverá, mas da palavra”, tenho certeza, que existem leituras que são para a alma, passe o tempo que for, os desafios, desafetos, desamores... elas permanecem e nos dão força, ensinamentos, empoderamento, abre as janelas da nossa alma. Pela leitura vamos a qualquer lugar.
Escrevo muito sobre o passado, sinto-o interagindo a todo momento com o meu presente. Quando criança ganhei do meu pai um saco cheio de livros, deram para ele, que não sabia o que fazer levou para casa e eu me apropriei dele. A maioria dos livros eram de escola, mas havias vários livros de contos. Eu adorei e amei cada um deles.

Velha Infância

Morto ou vivo, duro ou mole, pega-pega, esconde-esconde, ciranda, taco, pular corda, brincar de casinha, etc. Balão Mágico, Bozzo, Chispita, A gata e o rato, A super Vick, A poderosa Isis, As panteras, A Mulher Biônica, Os três patetas, o Gordo e Magro, Zorro, Jeannie é um Gênio, A Feiticeira, Jaspion, Primo Cruzado, O super-herói americano, Chaves, Chopolin, etc. Bolo de chuva, bolo de caco, bolo de barro. Menudos, Madona, New Kids, Michael Jackson...
Que delícia lembrar da infância, da inocência da infância. Quando eu era pequena cansei de enterrar moeda, achando que nasceria uma árvore de dinheiro. Fazer bonecos de barro, colecionada os isqueiros do meu pai. Cada um na minha imaginação tinha uma história, um nome, uma importância. Brincava mais com os brinquedos simbólicos, que com os que tinham a função definida. Mas, é claro que teve brinquedos marcantes na minha vida, como a boneca Emília, meu cavalo de pau, a zebra (que foi jogada fora pela mãe, porque tinha um furinho de nada, mas que deixava a casa cheia de bolinhas de isopor) e minha boneca Minha boneca Bem-me-quer. Ganhei a Bem-me-quer como presente de aniversário da dona Neném. Ela era linda, para mim enorme, tinha um vestido rosado e dois grandes laços no cabelo. Infelizmente, não teve um fim bonito, para mim, traumático. Convivi com esta lembrança até ano passado quando o Rogério resgatou uma Bem-me-quer, que pomposamente ostenta um lugar de destaque no cantinho das pelúcias em nossa casa.
Outros eventos marcantes para mim, o calça vermelha que ganhei da dona Regina no meu aniversário de 5 anos. Ela era nossa vizinha, era bem velhinha, mais sabia cozinhar e fazia uns bolos deliciosos. Era comum, nos finais de tarde eu ir visitar. Nossa acabei de ter um insight (ao longo da minha vida, sempre tive amigos bem mais velhos do que eu, pessoas muitas vezes solitárias, como a dona Regina, que me contavam suas histórias. Talvez daí tenha desenvolvido em mim o gosto pelas histórias e minha identificação com a minha profissão). Mas, voltando a falar da dona Regina, ela morava com o marido e tinha o cachorro Rex. O marido, que não lembro o nome, saia todos os dias para trabalhar e voltava tarde da noite, enquanto ele não chegava eu ficava lá e ouvia muitas e muitas histórias. Quando a dona Regina fez a calça vermelha, ela tirou minhas medidas dizendo que faria uma roupa para uma menina do meu tamanho, que não podia ir na casa dela. Eu claro, que sempre tive pensamento concreto, acreditei, no dia do meu aniversário, ela não foi à minha festa, mas deu-me o presente, que usei até quando fiquei grande demais. Ganhei muitos presentes: brinquedos, roupas, dinheiro, mas certamente a calça vermelha foi um dos que mais gostei.Quero relembrar também dos meus tios Naldo e Duda. Quando o eu tinha 05 anos, acho que o tio Naldo tinha em torno de 14 anos, ele estava no seu primeiro emprego e sempre na hora do almoço ia na minha casa, falava um oi e voltava para o trabalho. Lembro-me de um dia que ele foi até lá e me levou um danone.... O tio Naldo até hoje é assim, super apegado aos sobrinhos, e olha que hoje já somos mais que 40. O tio Duda era o tio que toda criança queria ter, mais que dar presentes, ele brincava e conversava, dava importância, valor às angústias infantis. Tenho as lembranças dele me levando de cavalinho, de “cacundinha”, foi ele que fez um balanço num galho forte de uma árvore com um pneu. Ele trabalhava, sempre trabalhou e ainda assim arranjava tempo para as crianças.

Nossa biblioteca


Decidimos todo mês nos darmos de presente um livrinho do Rubem Alves, elegemos ele como o primeiro a termos toda a coletânea, com o passar do tempo, teremos de outros autores também. Mas o que gostaria de falar, é registrar o quanto estou feliz com o nosso pequenino Centro de Estudos. Ele ainda não está pronto, falta bastante coisas, mas já é um charme. É um espaço que assim que entramos já dá vontade de ler alguma coisa, ouvir um música, assistir a um filme, escrever... Enfim, é espaço aberto a cultura, a pesquisa, ao estudo.
Hoje incrementamos mais um pouco a nossa videoteca. Eu com os filmes chegaram: O Pequeno Príncipe, A Loja Mágica de Brinquedos, O Som do Coração, Efeito Borboleta e Carruagem de Fogo. O Rogério ampliou o leque de ótimas opções da música. Falando da videoteca, também temos um projeto para ela, em princípio todos os filmes com Robin Williams e Johnny Depp. Depois permearemos pelos diretores também.É engraçado, desde criança sonhava em ter uma biblioteca em casa. Hoje este sonho se realizou.

Auto-escola


Hoje foi nossa primeira aula na auto-escola. Foi a aula prática de moto. O Rogério foi primeiro, e como esperado deu um show, praticamente o instrutor não precisou fazer nada depois de dada as primeiras instruções. Só ficar um pouquinho de olho, porque já se sabe, toda pessoa inteligente demais, depois que conhece ou domina o desafio, tenta causar mais emoções.
Para mim foi muito acima do que eu esperava. Eu estava com uns dois quilos a mais, só por causa da roupa e da bota. Achei no primeiro dia seriam muitos tombos, mãos arranhadas, calça rasgada. Exagero? Não. Limitação física mesmo. Tenho uma tremenda dificuldade com coisas manuais. Demoro um tempão para poder me acostumar a elas: tamanho, peso, textura, velocidade. Minha sorte, é que o instrutor era realmente muito paciente, me explicou pacientemente passo a passo e incentivou cada etapa certa que eu fazia.
O saldo final para mim, foi super-hiper positivo, afinal não coloquei o pé no chão nenhuma vez durante o percurso, derrubei a moto só uma vez e atropelei o Rogério somente uma vez (risos...).

O doce de tomate da Dona Nelita


Muitas pessoas, quando estão sem fazer nada, olham para a frente, para o futuro, imaginam-se bem sucedidos na profissão almejada, ou com o grande amor de suas vidas, ou ainda, numa incrível viagem... Eu, ao contrário, também faço meus planos, mas na maioria das vezes, fico lembrando das coisas que vivi no passado, em particular na minha infância. É verdade, que a separação dos meus pais, foi evento que me marcou muito e até hoje tenho alguns desses resquícios. Não saberei afirmar com o vigor da ciência quando começamos a registrar de forma consciente as lembranças dos acontecimentos. Alguns teóricos afirma algo em torno dos 3 anos, outros um pouco mais ou um pouco menos. Mas, não importa, pelo menos para este texto não é uma informação importante. Porque mais do que lembrar de forma cronológica, precisa os eventos. Trata-se de ressaltar que na memória emocional, temos registrado tudo desde que ainda estávamos na barriga da nossa mãe. Por isso, vejo a infância como essa fase tão peculiar, tão doce do desenvolvimento. Não informa se o presente foi o celular, a bicicleta, o vídeo game. O que fica para a criança são as emoções, de terem sido queridas, amadas, desejadas, respeitadas. Isso sim, será um grande diferencial em suas vidas.
Nós temos o Kauan, ele tem apenas 2,7 anos. É uma criança linda, saudável, doce, sereno. Ele adora o Rogério. O Rogério não sabe disso, mas eu sei, porque observo sentimentos, sou fascinada pelos relacionamentos das pessoas. Sei que mais tarde mesmo que o Kauan não registre eventos físicos e cronológicos, já está estabelecido o grau de relacionamento, o vínculo afetivo do pequenino Kauan para o super padrinho engraçado, tão menino quanto o afilhado. E é falando dessas memórias ou sentimentos que são criados em um tempo que não existe que quero falar do doce que é minha vozinha Nelita.
Neste mês estivemos todos muito preocupados porque ela ficou tempo demais em um lugar para pessoas com saúde frágil. É engraçado falar em saúde frágil de alguém que com quase 80 anos, passou por três AVC, 02 enfartes, cirurgia cardíaca, pressão alta, hipertireoidismo, diabetes. Pois é, minha avó, já perdeu a memória, ficou sem falar, já nos deu muitos sustos, mas resiste firmemente como uma mulher de luta.
Quando eu era pequena vivi muito com a minha avó. Ela era uma cozinheira fantástica: doce de abóbora, doce de melancia, doce de leite, doce de tomate. Hum! O famoso doce de tomate, não conheço mais ninguém que saiba fazer, nem mesmo minhas tias. Dona Nelita era mesmo incrível, sempre fez coisas que somente ela saberia criar, inventar, inovar. Poderia dizer muitas coisas a respeito dela. Mas, na verdade sou feliz por ter tido uma avó tão fantástica. Sou feliz por ter tido a sorte de viver o sentimento de neta.